sábado, 12 de maio de 2012

Entre a ousadia e o recuo - Resultado do Encontro Nacional de Mulheres do PT


Reproduzimos aqui o belíssimo texto da chapa Unidade Feminista no PT.  Vejamos.

O 11º Encontro Nacional de Mulheres do PT, realizado nos dias 5 e 6 de maio, em Brasília, reuniu 626 delegadas de todo o país, o maior encontro realizado até hoje pelas mulheres! O momento é histórico para as militantes petistas. É o primeiro Encontro Nacional após a eleição da presidenta Dilma, primeira mulher a presidir o país; e após a instituição da paridade de gênero nas instancias partidárias, aprovada durante o 4º Congresso do PT, em 2011. Todas que ali estavam vieram com a certeza e a vontade de fazer história e protagonizar novos avanços da luta das mulheres no PT.
As mulheres do PT sempre foram ousadas. Ousaram defender cota de 30% nos anos 90 e as ações afirmativas. Ousaram defender a legalização do aborto. Ousaram denunciar o machismo presente no partido. Ousaram, quando parlamentares feriram as decisões partidárias e a luta das mulheres, expulsá-los do partido. Ousaram defender e conquistar a paridade. Foi com este espírito de ousadia e luta que apostamos no 11º Encontro Nacional de Mulheres como espaço de formação e de discussão para nos ajudar a enfrentar grandes desafios, particularmente, a implementação da paridade entre mulheres e homens no PT, e assegurar às mulheres, neste ano de eleições municipais, condições necessárias para ampliar sua participação no Executivo e Legislativo.
Neste encontro, as delegadas tinham também a tarefa de, frente a uma conjuntura tão nova como a que estamos vivemos, definir a política a ser implementada pela Secretaria Nacional de Mulheres nos próximos quatro anos; e eleger sua nova direção – o Coletivo Nacional e a futura secretária.
Para vencer esse desafio era fundamental garantir um debate baseado na história das mulheres do PT, que na força da unidade foram capazes de produzir nos 32 anos de luta e existência do PT tantas conquistas, fazendo deste partido uma verdadeira ferramenta de luta da classe trabalhadora, afirmando que “não há socialismo sem feminismo”.
Para este debate, concorreram três chapas e quatro candidatas a secretária: chapa1 - Feminismo é no Plural, que propunha a recondução de Laisy Morière; a nossa chapa 2 – Unidade Feminista faz História no PT, tendo como nossa candidata Suely Oliveira; e a chapa 3 – As Mulheres Podem, com Gigi Fagundes e Fátima Beatriz.


Unidade Feminista para fazer história no PT
A nossa chapa, Unidade Feminista, é resultado da composição de diversas forças partidárias, que se unificaram em torno de propostas que visam resgatar a luta das mulheres, as bandeiras feministas e o protagonismo da Secretaria Nacional de Mulheres do PT, para dentro e fora do partido. Construímos um amplo diálogo com as demais forças de esquerda do PT, no sentido de unificar a crítica a atual política implementada pela Secretária Nacional de Mulheres do PT.
Nossa candidata, Suely Oliveira, é a expressão de nossa tese. Feminista com longa trajetória na militância partidária e no movimento social e feminista. Foi gestora municipal e integrou a equipe da SPM. Hoje é a Secretária de Mulheres do PT de Pernambuco.

A ousadia
Chegamos ao encontro com a disposição de realizar um balanço sobre a atual gestão. Apontar os desafios vindouros para as mulheres do PT e construir caminhos em sintonia com a nossa trajetória de vanguarda e ousadia para dentro do PT, da CUT e para sociedade. No primeiro dia do encontro nós da Unidade Feminista e a chapa 3, as Mulheres Podem, em respeito às mulheres ali presentes, propusemos às demais companheiras um Encontro, que garantisse a participação ampla e irrestrita de todas as presentes, incluído as delegações de Pernambuco e do Piauí. Além disso, apuração dos votos à realização do segundo turno.
Na nossa avaliação, tínhamos condições de fazer um bom debate a partir das teses inscritas e garantir ao encontro um resultado definido por todas as mulheres. A futura secretária, seja lá qual fosse eleita, sairia do Encontro mais fortalecida, perante às mulheres e à direção partidária. O que nos guiava durante do encontro era o fortalecimento das mulheres do PT, do coletivo e da secretária eleita. O protagonismo e a certeza de que a legitimidade dada pelas mulheres e pelo próprio encontro sempre é o melhor caminho! Apelamos todo o tempo para a ousadia que sempre foi a nossa marca, a marca das mulheres petistas. Era comum ouvir em alto e bom som o coro: “Autonomia das mulheres PT”.
Deparamo-nos durante todo o encontro com o recuo e falta de ousadia da chapa Feminismo é no Plural, não aceitando a proposta de que o encontro produziria o seu próprio resultado, chegando ao final com definição de Secretária e Coletivo eleito com a participação de todas presentes. A alegação era de que o Encontro poderia ser invalidado caso fizéssemos tal acordo. Mantinham a opinião de que as delegações de PE e PI deveriam votar em separado; e que as urnas deveriam ser apuradas somente após o julgamento dos recursos. Obviamente, o que estava em jogo para a chapa 1 era a incerteza do resultado eleitoral e seu temor quanto a um eventual segundo turno.
Infelizmente faltou ousadia por parte das companheiras da chapa 1 para levar o encontro até o final. Faltou ousadia para fazer um bom encontro, um bom debate. Mais uma vez apostaram no recuo e levaram sua delegação, mesmo com posições contrárias, ao voto amarrado e controlado contra a legitimidade das delegações de PE e PI e a abertura das urnas no encontro.
A posição de recuo comprometeu todo o resultado. Instalou-se um clima de muita tensão, desconfiança política e de pouca solidariedade por parte das delegadas da chapa 1 para garantir a continuidade do Encontro.
Os debates no primeiro dia ocorreram sobre grande incerteza. Só conseguimos votar o Regimento Interno no último dia. O pouco tempo que sobrou para discussão, comprometeu o debate das teses que tão pouco foram emendadas. Na busca de acordos políticos, da identificação de pontos comuns unificamos as teses Unidade Feminista e as Mulheres Podem como mais uma sinalização de que o que nos une – na luta feminista – nos fortalece e fortalece a organização das mulheres do PT.
O Encontro mostrou que não existe uma maioria hegemônica entre as mulheres do PT. As votações demonstravam uma polarização entre dois campos: Unidade Feminista e Mulheres Podem contra o Feminismo é no Plural. Vencidas por diferença muito pequena de votos. A primeira, e mais simbólica, foi a que definiu o voto em separado das delegações do PE e PI e apuração após o Encontro. As delegadas da Chapa 1, num quórum de 626 mulheres venceram por 23 votos.
Neste momento, as mulheres do PT perderam a oportunidade de demonstrar sua autonomia e afirmar um resultado fruto da participação política, construída nos encontros estaduais nos 26 estados e do DF ali presentes e, acima de tudo, do debate coletivo no 11º Encontro. Nossas delegações representam muitas, milhares de mulheres que lutaram, deram suas vidas e continuarão lutando pela igualdade, pela autonomia e pela cidadania plena das mulheres!

Da incerteza e as Diretas Já!
Ao final do encontro, sobrou incerteza. Para as delegadas não era possível levar consigo o resultado do encontro. Levaram dúvidas sobre qual a política, quem será a secretária, qual será o coletivo e como se daria essa escolha diante da proposta aprovada no encontro.
Com esse final, outra batalha teve início: garantir que os votos em separado das companheiras de Pernambuco e do Piauí fossem validados; e, havendo segundo turno, garantir que todas as mulheres tenham condições de votar diretamente em sua candidata, pois se aventava a possibilidade de votação indireta pelo novo Coletivo Nacional eleito.
Iniciamos a campanha pelas Diretas já! na Secretaria Nacional de Mulheres do PT, mais uma vez defendendo o direito às delegadas de participarem ativamente do processo.
A Comissão Executiva Nacional, reunida no dia 10 de maio, validou a delegação de Pernambuco; e acatou a decisão unânime da Câmara de Recursos, que manteve os votos do Piauí.
A CEN deliberou também que, se após a apuração houver necessidade da realização de segundo turno de votação, as mesmas delegadas, em seus estados, terão direito a votar diretamente em sua candidata. Os resultados nos estados serão contabilizados nacionalmente. Semelhante ao que ocorre no PED.
De acordo com comunicado da Secretaria de Organização do PT, a apuração dos votos lacrados nas urnas será realizada no dia 15 de maio, às 11 horas, na sede do PT Nacional em Brasília.
Para nós, da Unidade Feminista, o 11º Encontro foi o reflexo da última gestão da Secretaria Nacional de Mulheres do PT. Perdemos o nosso protagonismo em muitos momentos. Deixamos de apresentar nossas posições para o PT e para sociedade. Bandeiras tão caras para as mulheres quanto à legalização do aborto, ampliação da participação das mulheres nos espaços de poder e decisão, formação política para as mulheres, defesa do estado laico, posicionamentos frente aos desafios do governo Dilma não foram construídos pela então Secretária. Estas questões passaram ao largo da atual gestão e do encontro.
Seguimos reafirmando a necessidade de um coletivo capaz de responder a ousadia das mulheres, uma secretária com capacidade de intervir junto ao partido como porta voz das bandeiras de luta das feministas petistas e com condições de preparar o partido para a implantação da árdua conquista da paridade. Com isso, poderemos mais uma vez ser vanguarda na sociedade rumo a um mundo igual para mulheres e homens.
A nossa expectativa é grande. Seguimos sempre na luta até que todas sejamos livres.
Unidade Feminista faz História no PT.

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