terça-feira, 6 de março de 2012

Nosso corpo, território de quem?!



O blog Matizes Feministas aproveita as comemorações  do 8 de março - Dia Internacional da Mulher - para publicar posts de várias feministas. O primeiro deles é de Cecilia Cuentro, do Movimento Feminino Popular. Aí vai! Boa leitura.

                                                     Nosso corpo, território de quem?!
Do Estado que insiste em fechar os olhos para os direitos da mulher e a única coisa que sabe fazer “por nós” são medidas que cerceiam mais os direitos sobre os nossos corpos, mentes e escolhas, que inclusive foi cobrado pela ONU (Organização das Nações Unidas) no inicio desse ano, a se explicar em relação às mortes provocadas pelo aborto, prática de 1 milhão de mulheres por ano e que o Governo faz questão de fingir que não ocorre, dando mais atenção aos valores cristãos dessa sociedade que às mortes de milhares de negras e pobres que morrem em condições sub-humanas de abortamento.

Pertencemos também a uma Constituição que até pouco tempo atrás nos colocava enquanto sujeitas aos nossos maridos, cujas leis ainda são feitas por homens e para homens, que poucos passos têm dado no caminho de reconhecer os direitos das mulheres a reger sua própria vida. Pertencemos ainda, a Igreja. Nossos corpos sempre foram por essa instituição colocados em prisões e revistas constantes, nos posicionando como um ser criado por Deus no objetivo de procriar e encher o mundo de crianças, fazendo desse, nosso único e restrito papel na sociedade, servindo nessa vida para honra e glória do senhor e por isso sendo objeto de coerção pesada: nossas roupas, nossas escolhas, com quem mantemos relações ou não, quantos filhos queremos ter e se queremos e a vontade ou não de casamento; tudo isso sempre foi controlado por padres, bispos e toda hierarquia religiosa. Tivemos nossos corpos queimados durante a Inquisição, tivemos e continuamos a ter a culpa pelas mazelas do mundo, porque Eva comeu a maçã e assim por diante.

Somos propriedade também e, sobretudo da sociedade em que vivemos, machista, heteronormativa, sexista e patriarcal, na qual existem mulheres para casar e mulheres para curtir; que milhares de nós são mortas diariamente por homens inconformados com nossas escolhas e com nossos “não”, que nos estupram em massa nos chamados “estupros corretivos” devido às nossas orientações sexuais, que nos julga por andarmos de saias curtas, por bebermos, sairmos e vivermos nossa liberdade. Essa sociedade que não aceita que nós trabalhemos, a não ser se enfrentamos duas jornadas de trabalho para não deixar de cuidar de maridos e filhos, que não aceita que nossos corpos são nossos e que nem pai, nem filho, nem namorado nem marido tem direito de nos obrigar a ser como não queremos ser.



Enfim, somos de todo mundo, só não somos de nós mesmas. Todos que acreditam ter o direito de vigiar nossos corpos e escolhas, de nos impor regras e leis como a Medida Provisória 557, que quer cadastrar gestantes no momento da descoberta da gravidez, no intuito de fiscalizar essas mulheres e o que elas vão fazer com a sua gravidez, visando dessa forma acompanhar os passos de mulheres que por ventura não queiram continuar com a gravidez. E ainda dizer que nós somos livres, pois vivemos no pais democrático. Será?!
Dina Sfat (imagem: google)
E para além disso tudo, tem a mídia que faz questão de nos mostrar todos os dias como devemos nos comportar, como devemos ser. Magras, loiras e malhadas, trabalhadoras bem sucedidas, que tem filhos e que corre o dia todo, mas, mas ao fim do dia está linda e perfumada para o marido cansado do trabalho. Como se não nos cansássemos e fôssemos máquinas de satisfazer a tudo e a todos. Até quando?! Até quando seremos obrigadas a viver vigiadas e oprimidas por tudo e por todos?! Chega! Nós queremos liberdade de viver, de pensar e de estar na rua às dez da noite sem sermos estupradas ou violentadas, queremos ser livres para amar quem quisermos e se quisermos, para sermos gordas ou magras, sem ditaduras, para estudar sem sermos assediadas por professores e funcionários nas universidades e trabalharmos sem sofrer assédios de patrão.

Queremos a liberdade da Revolução Francesa, que deu aos homens o direito de ser quem eles querem ser. Ainda queremos mais, queremos o direito de querer e de não querer!
Meu corpo, minha escolha, minha escolha meu direito e meu direito eu quero garantido por uma sociedade livre do machismo e que nos olhe de igual para igual e não como objeto, serva de deus, progenitora ou algo que o valha! 

Um comentário:

  1. Adorei o espaço de vocês! Bravíssimo! O meu entorno ultimamente não tem sido fácil. Eu tendia a não circular por espaços em que transitam o preconceito, o machismo, a deturpação das diferenças e a naturalização das desigualdades. Tendemos a nos agrupar e conviver em nichos de pessoas que pensam parecido conosco. Então, as discussões parecem livres e não há o esforço do embate cotidiano. Pois bem, há 3 meses saí dessa minha "zona de conforto". Agora convivo seis horas por dia com mulheres machistas e tradicionalistas. Que tem ideias rígidas e naturalizadas de masculinidade e feminilidade. E o pior: que fundamentam estas mesmas ideias com teorias exdrúxulas que tendem a culpabilizar as mulheres pela falência dos casamentos. Pior ainda: que classificam como patologias todas as inabilidades e desentendimentos entre as pessoas. Além de todas as fugas aos padrões e lugares em que são obrigatoriamente situados homens e mulheres na sociedade (trabalho no Judiciário, em um setor psoicossocial). E o lado bom de tudo isso é que tenho elaborado melhor minhas fundamentações, porque essa é a vantagem de haver embate. É que reelaboramos milimetricamente nossos pensamentos, de onde vieram, e onde querem chegar. Então hoje meu feminismo tem sido potencializado. Em demasia. Mas confesso que não tem sido fácil! Bom, meu email é patriciaframeiro@hotmail.com
    Gostaria de ter mais contato com vcs porque planejo pensar e realizar pesquisa na área de gênero. Hasta!!!

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